Já li muito sobre o processo de escrita. Li centenas de entrevistas de escritores, li algumas dezenas de livros ou artigos sobre escrita. Li para aprender, li para saber o que me espera. De todos os que li, nenhum me ensinou tanto como um ensaio sobre Boxe de Joyce Carol Oates - curiosamente, ela é também autora de um livro sobre escrita que li em tempos idos. O ensaio chama On Boxing (Boxe na versão portuguesa, aquela que li). A passagem que me iluminou, diz isto:
“O artista sente alguma afinidade, embora oblíqua e parcial com o pugilista profissional, nesta questão do treino, desta fanática subordinação do ser aos desígnios de um destino desejado.Está tudo dito.
[...]
Se isto é masoquismo – e duvido que seja, ou que o seja apenas – é também inteligência, astúcia, estratégia. É um acto de perfeita autodeterminação – o constante restabelecimento dos parâmetros do ser.
Não apenas aceitar, mas provocar activamente, o que a maior parte dos humanos normais evitam – dor, humilhação, perda, desordem – é viver o momento presente, num certo sentido, como tempo passado. Aqui e agora é somente parte do projecto do além e então: agora dor, mas controlo e, portanto, triunfo mais tarde.”