Um poema de António Osório

In Memoriam

Ao lado do corpo de meu Pai
chorava esta pobre carne.
E de repente chegou a tua
e minha felicidade:

A teu lado estou
sorrindo a chamar-te,
espero que regresses a casa,
ansiosamente corro para a porta.

E ao colo sinto o teu calor,
contigo passeio pela mão,
pergunto, pergunto e tu respondes
ocultando o fim da vida.

Ver-te dormir, alegria
igual à tua
quando de noite
tranquilo eu respirava.

Tenho três anos e tu, Pai, és jovem,
grande, senhor do mundo,
deus docemente temido
desde o início.

Assim te amo agora sem lágrimas.
Que deste modo teus netos
um dia recordem de mim,
na tua, minha e deles
pura ignorância da morte.

António Osório em Raiz Afectuosa

A minha relação com a poesia sempre foi mais emocional que racional. Leio poesia para encontrar, num golpe de sorte, um conjunto de versos que diga algo por mim ou que ilumine algo que está obscurecido. Sempre foi assim e assim continuará a ser.
Nessa busca encontrei este poema de António Osório que diz tudo o que eu queria dizer, em oração, a meu pai.

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