Da paixão

Ela disse-me que é uma mulher de paixões avassaladoras. Contou-me que um dia largou um homem porque estava perdidamente apaixonada por outro. Eu disse-lhe que sou o oposto – racional até ao tutano.
O que não lhe disse, nem devia dizer, é que estive por ela apaixonada durante dois dias. Dois dias certos.
Nesses dois dias passeámos juntos uma vez, jantámos e fomos felizes. Olhei o seu cabelo, que tem vida própria, os olhos, as pestanas, o nariz e estremeci com a sua voz, meu deus! que bonita voz. Desejei-a como não desejei ninguém nos últimos tempos. Depois ganhei tino, afastei-me e arrumei as ideias. Repeti: Não dá, Emanuel, não dá. Não a arrelies com estas tuas coisas.
Julgo ter feito o melhor, mas sempre que estamos juntos sinto que me devia apaixonar novamente e pensar nela durante mais tempo que quarenta oito horas. É difícil resistir, ela é realmente muito bonita.

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