Da leitura: Charles Bukowski


Bukowski foi um dos percursores de um estilo de escrita minimalista, urgente e directo que muito aprecio. Apesar de mestre no uso desse estilo, falta a Bukowski a densidade que não falta, por exemplo, a Raymond Carver. Em Carver a simplicidade é apenas aparente e há muito mais para ler do que aquilo que está escrito. Carver (com ajuda do seu editor) levou ao extremo a ideia explicada por Hemingway à Paris Review:
“I always try to write on the principle of the iceberg. There is seven-eighths of it underwater for every part that shows. Anything you know you can eliminate and it only strengthens your iceberg. It is the part that doesn’t show. If a writer omits something because he does not know it then there is a hole in the story.”
Bukowski, pelo contrário, joga sempre pelo seguro. A parte do iceberg que está à vista não é uma parte, mas o iceberg todo. Descreve a vida que teve ou gostaria de ter tido sem rasgo de génio. A realidade dos livros de Bukowski é bidimensional, autista e previsível. Sabemos que tudo se resume à vida errante de beber e foder, sem que isso seja, como muitos fazem crer, um retrato efectivo de uma sociedade, de uma geração ou de uma franja social.
Lembro-me que no meu primeiro ano de faculdade uma professora referiu-se a Henry Miller como sendo literatura para adolescentes que estão a descobrir a sexualidade. Na altura eu estava a sair de uma adolescência passada, em parte, na companhia de Miller e fiquei muito revoltado com ela. Voltei a ler Miller anos mais tarde e verifiquei que estava certa. Miller tenta expressar uma visão do mundo, a sua visão do mundo, embora o faça de uma forma sensacionalista e alienada.
Bukowski, por defeito de época, nem isso faz. Limita-se à descrição. É não só literatura para adolescentes, como também literatura para adultos que procuram marcas exteriores de uma rebeldia interior reprimida. A sua importância é, por isso, mais iconográfica que literária.

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