Enquanto preparava a mudança de casa empacotando a quantidade estúpida de livros que tenho, praguejava contra esse meu vício de comprar mais e mais. Numa pausa e por mero acaso, peguei no Lunário do Al Berto e li o seguinte:
"«Sempre levei na bagagem muito pouca coisa» pensou Beno, esticando o pescoço para a frente de modo a seguir o voo sinuoso duma gaivota no enquadramento da janela. «Uma ou duas camisas, t-shirts, dois ou três pares de calças e uma infinidade de minúsculos objectos que nunca me serviam para nada. Viajei com o absolutamente necessário. E ao chegar a qualquer lugar comprava o que me fazia falta, depois, assim que prosseguia caminho, deitava tudo fora. Sempre achei que o que me era útil e indispensável num sítio deixaria de o ser noutro...»"
E pensei:
“É isto que quero para mim! Viver apenas com o indispensável e evitar estar preso ao acessório”
Esta ideia romântica fez-me ponderar fazer uma venda de garagem e vender todos os meus livros, discos e filmes. Com esse dinheiro faria uma viagem de mochila às costas durante um mês e voltaria diferente, mais capaz e confiante para enfrentar os desafios do dia-a-dia. Seria uma experiência que mudaria a minha vida. Felizmente tal ideia passou-me rápido e dias depois alombei com as caixas até um terceiro andar sem elevador. O romantismo não é para mim.